Matéria publicada , em Espanhol no jornal EL Pais !
JAVIER BARDEM La propiedad intelectual, a debate
El botón mágico
JAVIER BARDEM 24/12/2010
A propriedade intelectual, em debate
O botão mágico
Quero comprar um tomate fresco. Vou chamar um verdureiro para me vender um que acabou de tirar da horta. Mas acaba que, se aperto um botão no meu computador, um tomate parecido no sabor e na cor se instala automaticamente na minha geladeira. Não está tão bom como o da horta, mas... é só para uma sopa.
Me ocorre além disso, ser muito generoso e oferecer a quantos queiram que apertem seu próprio botão "Enter" e que se empanturrem de outros tantos tomates. Mas, eu não me preocupo , além do mais vou montar um roll de propagandas junto aos tomates que ofereço e assim, cada vez que alguém apertar o botão "Enter" eu levo uma grana. Isso sim é progresso!
E o verdureiro? Que se dane! Assim é o livre mercado. E quem planta? E quem os colhe? E quem os transporta? Pois também, que façam outra coisa.
Vou pintar a sala de verde. Há um pintor muito bom no bairro que maneja o rolo como ninguém. Não é barato, mas a verdade é que o cara é um fera com as cores. Melhor, aperto o botãozinho mágico e a minha sala é pintada em cinco minutos. Tem trincas na pintura e há pedaços da parede meio manchados, mas tudo bem, os tapo com alguns quadros.
E já que estamos aqui, vou chamar a atenção para outra forma de liberalismo econômico e anarquismo eletrônico e vou fazer com que a pessoa que quiser suas casas pintadas, apertem o botão e escolham a cor que mais gostem. Cara, nunca vai ser o mesmo, mas que reclamem a quem quiserem... E grana pro meu bolso por deixar que coloquem ao lado do botãozinho mágico, marcas de roupa e de eletrodomésticos! E o pintor, esse que era um fera? Nada, é o que temos. Que comece a servir bebidas no boteco do seu bairro. E o que fabrica os rolos e pincéis? Pois também... E o que constrói escadas? E os que costuram os macacões dos pintores? Ah, um minuto, que também faço um brinde , mesmo que seja com uma "bebida assasina". "Ferrar", isso já "sentem no osso" o pintor, os bares e os construtores e as pessoas da limpeza... A culpa não é minha, eu só exerço meu direito de livre consumo. Não é minha intenção que as pessoas fiquem sem trabalho, é um efeito colateral involuntário. E o fato de eu levar uma grana por as custas do trabalho de outros ... bom , é parte do meu "negócio involuntário" ... Se alguém ler isto, acreditaria que a pessoa que escreveu bebeu um pouco a mais, ou muito mais. Seria uma exploração, um atentado contra o trabalho de muitas, muitas pessoas para o benefício próprio em nome da liberdade de consumo. Um simples e claro caso de violação dos direitos de terceiras pessoas, de abuso, de roubo, de pura violação do trabalho de milhares e milhares de pessoas. Mas o que acontece quando se aperta um botão e se baixa um filme ou um disco? Ajudam exatamente o mesmo que se conta aqui: que milhões de pessoas que trabalharam muito e duramente para dar qualidade, vão para a rua enquanto uns ladrões enriquecem as suas custas.
Deixemos de bobagem, isso é roubar. É a orgia do crime, o bacanal de violações a terceiras pessoas.
Mas já não há lei que proteja ao que se foi roubado. Agora, abrace o ladrão.
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